Complicações relacionadas ao polimetilmetacrilato (PMMA) se tornaram frequentes; em janeiro, uma mulher morreu em Pernambuco após uso da substância em um tratamento estético
No campo estético, o PMMA é usado para preenchimento cutâneo, em forma semelhante a um gel/ Foto: Freepik
O Conselho Federal de Medicina (CFM) recomendou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que o uso do polimetilmetacrilato (PMMA) como substância de preenchimento seja banido e solicitou a imediata suspensão da produção e da comercialização de preenchedores à base do produto no Brasil. O requerimento foi entregue no dia 21 de janeiro, durante reunião na sede do órgão regulador.
A recomendação do CFM foi motivada pela morte de uma mulher de 46 anos após a realização de uma harmonização glútea no dia 11 de janeiro. Adriana Barros Lima Laurentino não resistiu a um choque séptico poucas horas depois de passar pelo procedimento em uma clínica particular na Zona Sul do Recife. A família afirma que o polimetilmetacrilato (PMMA), produto não recomendado para fins estéticos, foi aplicado na vítima.
O médico associado da AML Dr. Alcindo Cerci, que também é conselheiro do CFM, participou da elaboração do documento que pede o banimento do PMMA. “Esse documento contém 35 páginas e dispõe de ampla fundamentação técnica e científica, que não deixa dúvidas sobre os riscos do uso do PMMA”, pontua Cerci.
“Hoje em dia, como consta no documento, dispomos de substâncias mais seguras. Essa solicitação à Anvisa é mais um alerta para a população que, por não saber dos riscos, pode se submeter a procedimentos com o uso da substância. É importante frisar ainda que alguns profissionais, principalmente não médicos, têm usado o PMMA para fins estéticos, o que é proibido”, ressalta o conselheiro.
O documento destaca, ainda, o posicionamento de entidades como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) que, em 2024, alertou que a utilização do produto na forma injetável pode causar complicações como infecções, reações inflamatórias, necroses, insuficiência renal aguda e crônica, podendo levar o paciente a óbito. “Trata-se de um produto de difícil remoção e, quase sempre, com sequelas graves e mutiladoras ao paciente”, justifica a SBCP.
Outra entidade citada no requerimento é a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) que, também em 2024, alertou que procedimentos que necessitam da utilização de PMMA devem ser indicados e realizados por médicos, já que podem produzir resultados imprevisíveis e indesejáveis, incluindo reações incuráveis e persistentes – edemas locais, processos inflamatórios e reações alérgicas, além de reações tardias anos depois.
“Diante de todo o exposto e visando à proteção da sociedade, o Conselho Federal de Medicina recomenda que o uso do PMMA como substância de preenchimento seja proscrito e requer à Agência Nacional de Vigilância Sanitária a imediata suspensão da produção e comercialização de preenchedores à base de polimetilmetacrilato (PMMA) no Brasil.”
O que é o PMMA?
O PMMA é um componente plástico com diversos tipos de aplicação, tanto na saúde quanto em setores produtivos, a depender da forma de processamento e desenvolvimento da matéria-prima. Ele pode ser encontrado, por exemplo, em lentes de contato, implantes de esôfago e cimento ortopédico. No campo estético, o PMMA é usado para preenchimento cutâneo, em forma semelhante a um gel.
Relatos de complicações relacionadas ao uso do componente em procedimentos estéticos se tornaram mais frequentes no Brasil. Em 2020, uma influenciadora digital perdeu parte da boca e do queixo após fazer preenchimento labial com PMMA. No ano passado, outra influenciadora morreu após se submeter a um procedimento estético para aumentar os glúteos.
Autorizado pela Anvisa
Atualmente, o PMMA é autorizado pela Anvisa para tratamento reparador em casos de correção volumétrica facial e corporal, uma forma de tratar alterações de volume provocadas por sequelas de doenças como a poliomielite (paralisia infantil), e para correção de lipodistrofia, alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo, provocada pelo uso de medicamentos antirretrovirais em pacientes com HIV/aids.
A aplicação do PMMA, segundo a Anvisa, deve ser feita por profissional médico ou odontólogo habilitado. “O profissional é o responsável por determinar a quantidade necessária para cada paciente, de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto. O PMMA não é indicado em procedimentos com fins estéticos, sendo aprovado pela Anvisa para fins corretivos.”
Em dezembro de 2024, a Anvisa lançou a página “Estética com Segurança”, que reúne informações sobre o que o cidadão deve observar ao se submeter a um procedimento estético. Como saber se um produto é autorizado pela Anvisa, quais estão proibidos, o que é preciso observar em relação aos produtos, locais e profissionais para se sentir seguro ao realizar um procedimento estético são algumas das informações contidas na página.
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Por Comunicação AML – Infinita Escrita com Agência Brasil
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