AML Eleições Municipais 2020: a saúde no centro das atenções do próximo governo municipal

“Os gestores municipais devem deixar claro à sociedade as carências em relação a equipamentos, equipes de trabalho e estrutura física e liderar a busca por recursos nas esferas estadual e federal”, defende a presidente da AML Beatriz Emi Tamura, em reportagem veiculada pela Folha de Londrina (13/11), abordando as expectativas de lideranças do setor da saúde londrinense em relação ao próximo governo municipal, nas esferas do Executivo e do Legislativo, para o período 2021-2024.

Confira reportagem completa do jornalista Lúcio Flávio Moura, na edição da FL publicada em 13 de novembro 2020, com os depoimentos da presidente e de dois outros médicos associados AML, pesquisadores e especialistas em saúde pública e docentes da área de saúde coletiva nas escolas médicas de Londrina: Dr. João Campos e Dr. Gilberto Martin. Também nesta edição, ao final da reportagem, os áudios com as declarações da médica Beatriz Tamura, em atendimento à pauta da Folha.

 


Políticas de prevenção devem ganhar força no pós-pandemia
Foco em atenção primária, reorganização do sistema e articulação política por mais dinheiro de Brasília são as recomendações de especialistas em saúde pública para novos mandatos

Um processo eleitoral transcorrido em plena pandemia não pode ser parecido com nenhum outro. A votação marcada para domingo vai ter odor de álcool 70%, distanciamento entre as pessoas e seções eleitorais tomadas por mascarados. À revelia das escolhas dos estrategistas das campanhas, as próprias circunstâncias do pleito colocam a saúde no centro das atenções.

Pesquisa feita pelo Ibope durante a atual campanha confirmou que os milhões de casos e dezenas de milhares de mortos por coronavírus no Brasil influenciaram a percepção dos eleitores sobre os principais problemas dos futuros gestores.  Para 63% dos paulistanos, saúde é a área da administração que mais preocupa. No mesmo levantamento realizado antes das municipais de 2016, este índice era de 46%. Em Curitiba, aferição idêntica feita pelo Ibope apontou que 58% dos eleitores cravaram saúde como prioridade, contra 49% de quatro anos antes.

Especialistas ouvidos pela Folha recomendam que em Londrina Executivo e Legislativo mirem suas ações para o quadriênio 2021-2024 na atenção primária, com investimentos maiores em programas como o Saúde da Família. Os entrevistados também convergiram sobre a necessidade de reorganização do sistema, com mais rigidez na distribuição dos atendimentos de baixa, média e alta complexidade conforme o perfil das unidades. Eles também concordam que esta rede de assistência mais ativa se concentre no atendimento aos pacientes das doenças crônicas mais comuns, aos idosos e às gestantes.
Outro aspecto mencionado pelos entrevistados como fundamental para a melhora da saúde pública do município é a ampliação do volume repassado pelo Ministério da Saúde para custear os procedimentos de alta complexidade, cujo deficit é de aproximadamente R$ 60 milhões anuais.

RECURSOS DO MINISTÉRIO – A revisão do volume de recursos repassados para Londrina exige duas frentes de articulação. A primeira envolvendo a sociedade civil, em especial os gestores de hospitais privados, para discutir os argumentos técnicos da elevação do teto, além da frente política para a negociação com o governo federal, tarefa árdua numa provável realidade de cortes orçamentários que se vislumbra para o quadriênio.

“Os gestores municipais devem deixar claro à sociedade as carências em relação a equipamentos, equipes de trabalho e estrutura física e liderar a busca por recursos nas esferas estadual e federal”, defende Beatriz Emi Tamura, presidente da Associação Médica de Londrina, entidade que congrega cerca de mil profissionais, 300 deles atuando no sistema público.

O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Luiz Soares Koury, acredita que, desta vez, a mobilização em torno desta proposta deve envolver outras forças, além do prefeito e dos vereadores, para obter sucesso. “Não há dúvida de que esta é uma prioridade porque sem receber o mínimo necessário os hospitais ficam defasados tecnologicamente e com equipes reduzidas, sem materiais suficientes e com uma oferta menor de leitos”, explica. “Esta reivindicação junto ao governo federal deve ser feita de modo incisivo, envolvendo a pressão de toda a sociedade, caso contrário fracassa, como ocorreu outras vezes”.

João José Batista de Campos, professor aposentado do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina e presidente do Inesco (Instituto de Estudos em Saúde Coletiva), propõe a criação de uma Frente Regional em Defesa da Saúde. “Unidos teremos melhores condições de captar os recursos e resgatar a esperança dos profissionais de saúde em um sistema que já foi referência nacional pelas coisas boas que criou e desenvolveu”, avalia.

ATENÇÃO PRIMÁRIA – Gilberto Martin, ex-secretário estadual e municipal da pasta e reconhecido como um estudioso do SUS, sugere que o município comece no próximo quadriênio um processo de transição do modelo de saúde pública, com duas ações prioritárias.

“É preciso colocar a atenção primária no centro do sistema. Promover a identificação e a abordagem da população de risco para que ela seja acompanhada antes de ficar doente”, explica. Neste caso, Martin recomenda a divisão da cidade em distritos sanitários e que a população seja detalhadamente cadastrada para dar mais eficiência e abrangência aos programas de prevenção. “O importante é que os prefeitos tenham em mente que é preciso sair de um modelo regido pela demanda e passar a pensar o sistema como uma rede de assistência que atue ativamente nos bairros”.
Ao mesmo tempo, ele propõe uma ação emergencial para reduzir filas para exames, consultas com especialistas e cirurgias, com o aumento da carga horária dos médicos nos postos de saúde por um prazo determinado. Para ele, com a redução deste deficit e o foco na prevenção, a melhoria no sistema aconteceria naturalmente nos anos seguintes.

O professor da UEL Airton José Petris, mestre em saúde pública, é outro entrevistado que diz acreditar na reestruturação da atenção primária como prioridade na área. Ele propõe a criação de centros de apoio à saúde da família, com equipes multiprofissionais. “É um programa que deveria recuperar o espaço importante que já ocupou no município”.  Para o docente, a ampliação do atendimento de especialidades também deveria estar na lista de prioridades do governo municipal. Segundo ele, a combinação de mais acesso a profissionais específicos e à continuidade do tratamento por meio dos centros de apoio seria um grande ganho para a prevenção e para o desafogo na alta complexidade.

 

Ouça os áudios com as declarações da presidente da AML, médica Beatriz Tamura, à Folha de Londrina para esta reportagem:

 

Fonte: reprodução de reportagem publicada pela Folha de Londrina em 13/11/2020, com assessoria AML

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