“Gente amiga…” é mensagem do médico sanitarista associado João Campos, como alento aos dias atuais

“A fase atual da quarentena, abrindo seu terceiro mês em maio, é marcada por cansaço, desânimo intenso, necessidade absoluta de reformulação – de trabalho, de coisas decididas inclusive no início da quarentena, de práticas, de pensamentos, de rotina inicialmente adotada no isolamento…De tudo, enfim. Fase marcada pelo corpo com sinais de pouco uso, pouco alongamento e pouco movimento (mesmo que você esteja se movimentando), pois sua rotina foi alterada e o corpo está se adaptando ao novo. Marcada pelo pensamento negativista, descrédito generalizado em informações, nostalgia, pensamentos vagos, dificuldade em continuar tarefas por não ver sentido nelas (mas confiem, elas têm sentido sim, é só a sua percepção), pelo apetite alterado, déficit de atenção e de manutenção de foco, anedonia (incapacidade de sentir prazer com coisas que antes nos eram prazerosas), entre outros e outros e outros…

Isso não é só fruto da minha observação pessoal, mas também dos estudos que li sobre efeitos do confinamento, do isolamento social, do estresse imprevisível. Curiosamente, esses são temas dos domínios da minha primeira área de formação: psicobiologia, comportamento humano em situações adversas, papel do estresse agudo e crônico sobre o comportamento, resiliência física e mental, transtornos de ansiedade (ansiedade generalizada e pânico), psicobiologia do comportamento aversivo. E sim, não temos como prever os eventos estressantes e traumáticos provocados pela pandemia do coronavírus.

Por que estou apontando isso? Para que todo mundo que está se sentindo assim saiba que muita gente está assim. Não é um problema seu, uma inabilidade ou uma incapacidade apenas sua. É assim mesmo que a gente se comporta. Então, segura firme aí e não deixa a coisa degringolar. Lembre-se sempre: nosso corpo e nossa mente reagem a despeito da forma como gostaríamos que reagissem.
Tem muita gente em sofrimento sim. E isso não diz nada a respeito da sua capacidade de enfrentamento, não diz que você é fraco, ou desorganizado, ou nada disso. Diz apenas que você é um ser humano passando pela situação mais adversa dos tempos atuais.

Respira – o vírus nos lembra disso todos os dias. Respira fundo. Não vamos nos comportar dessa maneira até o fim. O comportamento muda, nossa resposta é adaptativa, significa que ela vai se adaptando. Não tem nada de “doente” ou “incapaz” ou “fraco” ou “despreparado” para quem não está se sentindo bem neste momento. É normal. É esperado. Logo mais vamos reagir de outra maneira. Tá tudo bem não estar bem agora; tá tudo bem em se sentir bem num dia e péssimo no outro; tá tudo bem sentir medo, ter oscilação de humor, e também sentir felicidade com pequenas coisas.

Só não está bem descontar tudo isso nos outros, porque o outro também está sofrendo. E lembre-se: o isolamento social também tem fases; e essa, é bastante densa. Portanto, segure-se no que você tem de mais valioso em sua vida, pois juntos vamos vencer essa pandemia.”

*SOBRE O AUTOR
A mensagem de alento para este novo período em que vivenciamos todos é do médico associado João Campos. Doutor em Saúde Coletiva, docente da UEL e diretor presidente do Inesco-Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, professor João enviou originalmente essa mensagem aos membros das Comissões Organizadora e Científica do 5º Congresso Paranaense de Saúde Pública/Coletiva. Evento que, mantendo sua data de realização para os dias 15 e 16 de julho em Londrina, teve que, de uma hora para outra, ser integralmente reformatado para plataforma digital, com as equipes de trabalho se reinventando para produzir um novo modelo de congresso, mas que mantivesse o interesse comum de sempre: o cuidado em saúde a serviço da vida!

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