Mais do que números assustadores, essas estatísticas estão deixando cicatrizes na vida de todos os brasileiros, diz a pesquisa realizada pela Instituto FSB para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e publicada pela Revista Exame/Bussola.
“Abril terminou como o pior mês da pandemia de coronavírus no Brasil. Foram 82.266 vítimas da covid-19, 31% a mais que o recorde anterior de 62.918 óbitos em um único mês, registrados em março. Foi também em abril que o país rompeu a barreira das 400 mil mortes (já são 407.639 até o último domingo – 25/04). Mais do que números assustadores, essas estatísticas estão deixando cicatrizes na vida de todos os brasileiros. Hoje, 3 em cada 4 pessoas conhecem alguém próximo que foi vítima da covid-19. É o que revela pesquisa encomendada ao Instituto FSB Pesquisa pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e que acaba de ser divulgada.
Do total de entrevistados (2.010, em amostra representativa da população brasileira, com margem de erro de 2 pontos percentuais), 53% conhecem uma amiga ou amigo morto pelo coronavírus. Outros 27% têm algum parente ou familiar vítima da pandemia (2% perderam familiares que vivem com eles e 25% perderam parentes que não moram no mesmo domicílio). Há ainda 15% dos entrevistados que viram algum colega de trabalho perder a luta contra o vírus. A morte nunca esteve tão presente na rotina de tanta gente ao mesmo tempo.
As estatísticas dão a dimensão da tragédia que vivemos a cada dia. A dor da perda faz as pessoas terem mais medo da pandemia. Entre os 25% que não vivenciaram o luto da covid, 43% têm medo grande do coronavírus. Já entre os 75% que perderam pessoas próximas para a doença, o medo grande chega a atingir 61% das pessoas.
Se por um lado a ampla maioria da população já viveu a dor da perda, por outro a esperança em relação à vacinação ainda é muito difusa. Para 83% dos brasileiros, o ritmo da campanha de imunização hoje é lento (23%) ou muito lento (63%). Essa percepção faz com que boa parte das pessoas — 1 em cada 3, ou 35% da população que ainda não foi vacinada — não tenha esperança de ser imunizada ainda este ano.
Com mais experiência de morte do que de vacina, é natural que o brasileiro ainda esteja bastante amedrontado: 87% dos entrevistados pelo Instituto FSB dizem ter algum medo da pandemia, sendo que 56% da população têm um medo grande (bem acima dos 47% registrados na primeira onda, em julho do ano passado).
Números ainda muito altos, mas melhores – A boa nova é que, apesar do caótico cenário de abril, os números realmente mostram alguma melhora na pandemia em todo o país. A média móvel de mortes atingiu no domingo 2.406 óbitos por dia, patamar 17% inferior ao registrado há duas semanas. O contágio também dá sinais de desaceleração, ao cair de 65.864 novos casos/dia para 59.160, um recuo de 10% em duas semanas.
Das 27 unidades da Federação (UFs), o contágio hoje só está acelerado em Pernambuco. Há estabilidade em 12 estados e redução em outros 12, mais o Distrito Federal. São eles: Acre, Amapá e Rondônia, na Região Norte; DF, Goiás e Mato Grosso, no Centro-Oeste; Bahia, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba, no Nordeste; São Paulo e Espírito Santo, no Sudeste; e Rio Grande do Sul e Paraná, na Região Sul.
A questão é que, apesar do recente arrefecimento, os números seguem em patamar muito elevado. A média de cerca de 2.400 mortes diárias é quase 2,5 vezes superior ao patamar vivido durante a primeira onda de covid, que no Brasil durou do final de maio ao final de agosto, com cerca de 1.000 mortes por dia, também em média.
Mesmo que o ritmo atual siga caindo, é provável que o Brasil rompa a triste barreira das 500 mil mortes no final de junho. Projeções de alguns infectologistas indicam que o país poderá atingir 600 mil óbitos até agosto. Apesar da recente melhora, a experiência da tragédia em que se transformou a pandemia de covid-19 estará cada vez mais próxima de todos, infelizmente.
Fonte: reprodução de artigo do colunista Marcelo Tokarski para a Exame/Bússola , publicado em 3 de maio 2021