Tuberculose: OPAS/OMS quer eliminar a doença no mundo até 2030

Campanha do Dia Mundial de Combate à Tuberculose de 2024 alerta para a colaboração multissetorial para a erradicação da doença que tem registrado recorde de mortes

A eliminação da tuberculose até 2030 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, por isso, o tema “Sim! Nós podemos acabar com a TB!” foi escolhido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para marcar a campanha de conscientização de 2024 em alusão ao Dia Mundial de Combate à Tuberculose, celebrado em 24 de março.

A organização alerta para a necessidade de aumento nos investimentos e adoção rápida de novas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), além da colaboração multissetorial para o combate à doença que vem registrando número recorde de mortes no mundo. 

A tuberculose foi a segunda doença infecciosa que mais matou em 2022. Foram cerca de 1,3 milhões de óbitos registrados no período, de acordo com o último levantamento da OMS.  A TB é uma das 30 doenças transmissíveis contempladas na Iniciativa da OPAS para a Eliminação de Doenças nas Américas, região que tem uma história de sucesso na eliminação de doenças.

O chamado à ação envolverá os países membros a acelerar a implementação de novos métodos de diagnóstico, esquemas de tratamento encurtados e orais recomendados pela OPAS/OMS para tuberculose resistente a medicamentos, além de estratégias inovadoras na busca de casos. O Brasil faz parte dos países prioritários para o enfrentamento à doença, já que está entre os 30 países do mundo com maior índice de transmissão da doença. 

O compromisso do país é zerar, até 2035, o número de famílias afetadas pela tuberculose, que aumenta ainda mais a vulnerabilidade e os gastos com o tratamento da doença. Além de ampliar o acesso ao diagnóstico e ações de prevenção,  o governo federal criou, em 2023, o Comitê Interministerial para a eliminação da doença. 

Ainda no ano passado, o Ministério da Saúde lançou a Campanha Nacional de Combate à Tuberculose, com o objetivo de conter o avanço da doença no país. A iniciativa reforça a importância de medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento correto.

‘Quem tem tuberculose não está sozinho’

Com a mensagem “Quem tem tuberculose nunca está sozinho. A gente testa, a gente trata, a gente vence”, a campanha chama atenção para os principais sintomas, como tosse por três semanas ou mais, febre e emagrecimento e reforça que o diagnóstico e o tratamento, que leva à cura da tuberculose, estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).

Em 2022, cerca de 78 mil pessoas adoeceram por tuberculose no Brasil. Em média, foram registradas 14 mortes por dia em decorrência da doença no período. O número representa um aumento de 4,9% em relação a 2021, segundo informações da edição especial do Boletim Epidemiológico. 

A meta do Ministério da Saúde é alcançar as populações prioritárias e mais vulneráveis para a doença, como pessoas em situação de rua, pessoas privadas de liberdade, pessoas vivendo com HIV/AIDS, imigrantes e comunidades indígenas.

Uma das principais formas de proteção contra casos graves da tuberculose é a vacina BCG, recomendada pelo Calendário Nacional de Vacinação logo após o nascimento. Mas, nos últimos anos, houve uma redução importante da cobertura vacinal. 

Até 2018, o índice de vacinação se mantinha acima de 95%. A partir de 2019, a cobertura não ultrapassou os 88%. Essa queda representa aumento do risco de transmissão da doença e retomar a alta cobertura vacinal é fundamental para a eliminação da tuberculose no Brasil. 

O cenário da tuberculose no Brasil também foi agravado pela pandemia da covid-19, que provocou a redução de notificações. O diagnóstico precoce é fundamental para iniciar o tratamento no tempo correto e aumentar as chances de cura, principalmente entre a população que tem maior risco para sintomas graves. 

Tuberculose tem cura

A tuberculose é causada pelo bacilo de Koch, uma bactéria que acomete os pulmões na grande maioria das vezes e pode resultar em doença avançada, levando, inclusive, ao óbito. 

A transmissão ocorre por meio das vias aéreas: durante a fala, espirro ou tosse podem ser eliminados bacilos que virão a infectar outras pessoas que estejam no mesmo ambiente. 

É fundamental lembrar que a tuberculose tem cura e deve ser acompanhada de perto assim que surgirem os sintomas.

tuberculose
Material de Divulgação da OPAS/OMS

O SUS oferece tratamento totalmente gratuito para a tuberculose. O diagnóstico logo no início dos sintomas e o acompanhamento do paciente pelas equipes de saúde são estratégias para identificar as fontes de infecção e descontinuar a transmissibilidade na rede de contatos. 

Os testes para o diagnóstico são ofertados gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde e além das pessoas com sintomas da doença, seus contatos mais próximos também devem ser testados.

A adesão ao tratamento é um fator importante para garantir a cura e barrar a cadeia de transmissão. O cuidado terapêutico é um processo longo, com duração de no mínimo seis meses, e exige o uso de medicação contínua, apesar da melhora logo nas primeiras semanas.

O tratamento deve ser realizado até o final rigorosamente, pois a administração irregular pode acarretar em complicações e provocar o desenvolvimento de tuberculose resistente aos medicamentos utilizados.

Vacina é ineficaz em adultos

Estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reforça que a vacina BCG deve ser aplicada em crianças até 5 anos de idade, para prevenir a forma grave da tuberculose, mas é ineficaz quando aplicada em adultos contra a infecção inicial pelo vírus Mycobacterium tuberculosis, causador da doença.

Publicado este mês na revista britânica The Lancet – Infectious Diseases, o trabalho indica, também, a necessidade que sejam desenvolvidas novas vacinas em todo o mundo contra a doença.

O trabalho foi realizado apenas no Brasil, nas cidades de Campo Grande (MS), Manaus (AM) e Rio de Janeiro (RJ) pelos pesquisadores Julio Croda, Margareth Dalcolmo e Marcus Lacerda. O levantamento integra o ensaio clínico Brace, com BCG randomizado, em que os participantes foram escolhidos de forma aleatória, cujo objetivo principal era avaliar a eficácia da vacina em trabalhadores de saúde contra a covid-19. 

O estudo Brace foi financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates e abrangeu cinco países: Brasil, Holanda, Espanha, Austrália e Reino Unido.

O pesquisador Julio Croda explicou que a preocupação foi avaliar a BCG se a revacinação com BCG iria proteger trabalhadores de saúde de infecções por tuberculose, mas a conclusão foi que a revacinação em adultos não é recomendada.

Foram escolhidos dois grupos de profissionais de saúde, totalizando 2 mil pessoas, das quais mil foram revacinadas com BCG e mil não receberam a vacina. Testes sanguíneos foram feitos antes de a pessoa ser vacinada com BCG e depois de 12 meses, para ver quantos pacientes adquiriram essa infecção. Observou-se, então, que a chance de se infectarem, da ordem de 3%, foi igual nos dois grupos.

Vacinas

Para o pesquisador, o estudo deixa claro que o Brasil precisa de novas vacinas contra a tuberculose, porque a BCG, que é dada quando a criança nasce, só protege contra as formas graves até 5 anos.

Para as populações que estão sob risco da doença, ele defendeu mais investimentos para o desenvolvimento de novas vacinas. Essa é a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que está financiando estudos na África, onde há muitos casos de tuberculose.

“É importante que a gente tenha outras vacinas em desenvolvimento, inclusive no Brasil, que possam ser aplicadas para grupos de risco e possam prevenir a doença propriamente dita, a tuberculose”. Não há, ainda, no mundo, uma vacina contra essa doença.

Fiocruz

A Fiocruz está em fase inicial de pesquisa sobre uma nova vacina contra a tuberculose. Ainda não foram feitos testes clínicos.

“Demonstramos que a vacina BCG é boa para crianças, para prevenir as formas graves. Mas ainda é preciso uma vacina mais eficaz para a doença ativa e, principalmente para grupos de risco, como profissionais de saúde, populações privadas de liberdade, indígenas, portadores de HIV/Aids. No Brasil, Croda disse que a tuberculose é a principal causa de óbito relacionada a doenças infecciosas, depois da covid-19.

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Por Comunicação AML – Divulga e Infinita Escrita com Ministério da Saúde, OPAS e Agência Brasil

comunica.aml@aml.com.br

 

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